Noticias

No momento em que completei dezoito anos, minha mãe me expulsou de sua casa. Anos depois, o destino guiou—me de volta àquela mesma casa-e quando abri o fogão, descobri um segredo tão aterrorizante que me congelou profundamente.

**Anya sempre se sentiu uma estranha dentro da própria casa.**
Sua mãe sempre favoreceu abertamente as irmãs mais velhas — Vika e Yulia —, enchendo-as de muito mais carinho e atenção. Essa injustiça feriu profundamente Anya, mas ela engolia a dor, sempre tentando agradar a mãe e conquistar ao menos uma migalha de seu amor.

“Nem pense em morar comigo! O apartamento é das suas irmãs. E você me olha como um filhote de lobo desde criança. Então vá morar onde quiser!” — Com essas palavras duras, sua mãe a expulsou de casa no dia em que completou dezoito anos.

Anya tentou argumentar, explicar o quanto era injusto. Vika era apenas três anos mais velha, Yulia cinco. As duas completaram a universidade com tudo pago pela mãe; ninguém pressionava elas a se tornarem independentes. Mas Anya sempre foi a ovelha negra. Apesar de todos os seus esforços para ser “boa”, era amada apenas superficialmente pela família — se é que aquilo podia ser chamado de amor. Somente o avô lhe demonstrava bondade. Foi ele quem acolheu a filha grávida depois que o marido dela as abandonou e sumiu sem deixar rastros.

“Talvez a mamãe tenha alguma dor por causa da minha irmã? Dizem que me pareço muito com ela”, Anya pensava, tentando encontrar uma explicação para a frieza da mãe. Ela tentou várias vezes ter uma conversa honesta com a mãe, mas sempre terminava em escândalo ou birra.

Mas o avô era seu verdadeiro apoio. Suas melhores lembranças de infância estavam ligadas ao vilarejo onde passavam os verões. Anya adorava cuidar da horta e do jardim, aprendeu a ordenhar vacas, assar tortas — qualquer coisa para adiar o retorno ao lar, onde era recebida com desprezo e acusações.

“Vovô, por que ninguém me ama? O que há de errado comigo?” ela perguntava com frequência, segurando as lágrimas.

“Eu te amo muito,” ele respondia com ternura, mas nunca dizia uma palavra sobre sua mãe ou suas irmãs.

A pequena Anya queria acreditar que ele tinha razão, que ela era amada — só que de uma forma especial… Mas quando completou dez anos, o avô faleceu, e desde então a família passou a tratá-la ainda pior. Suas irmãs zombavam dela, e sua mãe sempre ficava do lado delas.

Daquele dia em diante, ela nunca mais ganhou nada novo — só roupas usadas de Vika e Yulia. Elas debochavam:

“Olha só que blusa da moda! Serve pra esfregar o chão ou pra Anya — dá na mesma!”

E quando a mãe comprava doces, as irmãs comiam tudo e davam apenas os papéis de bala para Anya:

“Toma, bobinha, coleciona os papeis!”

A mãe ouvia tudo, mas nunca as repreendia. Assim foi como Anya cresceu, como um “filhote de lobo” — indesejada, sempre implorando amor a pessoas que não a viam apenas como inútil, mas como um alvo de zombarias e desprezo. Quanto mais ela tentava ser boa, mais era odiada.

Por isso, quando foi expulsa de casa no aniversário de dezoito anos, Anya conseguiu um emprego como auxiliar de limpeza em um hospital. Resistência e trabalho duro viraram seu hábito, e agora ao menos recebia um salário — mesmo que pequeno. Mas ali, ninguém a odiava. Se num lugar a bondade não é retribuída com ódio, já é um avanço. Era isso que ela pensava.

Seu chefe até lhe deu uma chance de conseguir uma bolsa para se formar como cirurgiã. Na pequena cidade, faltavam profissionais, e Anya já tinha mostrado talento enquanto trabalhava como enfermeira.

A vida era difícil. Aos vinte e sete anos, não tinha mais parentes próximos. O trabalho virou sua vida — literalmente. Ela vivia para os pacientes cujas vidas salvava. Mas o sentimento de solidão nunca a deixava: morava sozinha num dormitório, como antes.

Visitar sua mãe e irmãs era sempre uma decepção. Anya tentava ir o menos possível. Todos saíam para fumar e fofocar, e ela ia até a varanda chorar.

Num desses momentos, um colega — o auxiliar Grisha — se aproximou:

“Por que está chorando, linda?”

“Linda? Não zombe de mim,” respondeu Anya, em voz baixa.

Ela se achava sem graça, uma ratinha cinzenta, sem notar que, aos quase trinta anos, tinha se tornado uma loira delicada e encantadora, com grandes olhos azuis e um nariz bem desenhado. A insegurança da juventude tinha sumido, seus ombros estavam mais retos, e o cabelo claro, preso num coque rígido, parecia querer se soltar.

“Você é muito bonita! Valorize-se e não abaixe a cabeça. Além disso, você é uma cirurgiã promissora, sua vida está tomando um bom rumo,” ele a incentivou.

Grisha trabalhava com ela há quase dois anos, às vezes lhe dava chocolates, mas essa foi a primeira conversa verdadeira entre eles. Anya chorou e contou tudo.

“Talvez você devesse ligar pro Dmitry Alekseevich? Aquele que você salvou recentemente. Ele te trata bem. Dizem que tem muitos contatos,” Grisha sugeriu.

“Obrigada, Grish. Vou tentar,” Anya respondeu.

“E se não der certo, a gente casa. Tenho apartamento, não vou te tratar mal,” ele disse em tom de brincadeira.

Anya corou e de repente percebeu que ele estava falando sério. Ele não via nela uma órfã digna de pena, mas uma mulher que merecia amor.

“Tudo bem. Vou considerar essa opção também,” ela sorriu, sentindo-se, pela primeira vez em muito tempo, não como uma “burra de carga” ou indesejada, mas como uma jovem bonita com toda a vida pela frente.

Naquela mesma noite, Anya discou o número de Dmitry Alekseevich:

“Aqui é a Anya, a cirurgiã. O senhor me deu seu número e disse que eu poderia ligar se tivesse algum problema…” ela começou, hesitante.

“Anya! Que bom que você ligou! Como está? Aliás, sabe de uma coisa? Melhor nos encontrarmos. Venha até aqui, tomamos um chá e conversamos sobre tudo. Gente mais velha gosta de bater papo,” respondeu ele, calorosamente.

No dia seguinte, era folga de Anya, então ela foi visitá-lo. Contou honestamente sobre sua situação e perguntou se ele conhecia alguém que precisasse de uma cuidadora residente.

“Sabe, Dmitry Alekseevich, estou acostumada ao trabalho duro, mas agora sinto que não aguento mais…”

“Não se preocupe, Anechka! Posso te conseguir um trabalho de cirurgiã numa clínica particular. E você pode morar comigo. Sem você, eu não estaria vivo hoje,” ele disse.

“Ah, claro, Dmitry Alekseevich, eu aceito! Mas seus parentes não vão se importar?”

“Meus parentes só aparecem quando eu morro. Só pensam no apartamento,” respondeu ele, triste.

E assim começaram a morar juntos. Passaram-se dois anos, e um romance floresceu entre ela e Grisha, muitas vezes entre uma xícara de chá e outra. Mas Dmitry Alekseevich não gostava de Grisha e sempre dizia:

“Desculpe, querida, mas o Grisha é um bom rapaz, só que fraco e muito influenciável. Não se pode contar com alguém assim. Tente não se apegar demais.”

“Ah, Dmitry Alekseevich… É tarde demais. Já decidimos nos casar. Aliás, ele me pediu em casamento de brincadeira dois anos atrás. E agora… estou grávida,” anunciou Anya, radiante de felicidade. Ela havia descoberto a gravidez recentemente, mas logo acrescentou: “Mas o senhor ainda é muito importante para mim! Vou visitá-lo todos os dias. O senhor é como família pra mim.”

“Bem, Anyutka… Não estou me sentindo bem. Vamos fazer assim: amanhã vamos ao cartório e vou registrar uma casa no campo em seu nome. Você sempre gostou da vida rural. Pode ser sua dacha… ou vender, se quiser.”

Ele hesitou, não terminou a frase, e franziu a testa.

Anya tentou recusar: era demais, ele ainda viveria muitos anos, melhor deixar a casa para os filhos. Embora, nos dois anos passados, eles o tivessem visitado apenas uma vez. Mas Dmitry Alekseevich foi firme.

Anya ficou chocada ao saber que a casa ficava exatamente no vilarejo onde seu avô querido havia morado! A antiga casa já havia sido demolida, o terreno vendido, e estranhos moravam lá agora. Mas o fato de agora ter um cantinho seu ali despertou sentimentos e memórias calorosas.

“Eu não mereço isso, mas muito obrigada, Dmitry Alekseevich!” ela agradeceu com sinceridade.

“Só uma coisa: não conte ao Grisha que a casa está em seu nome. E não me pergunte por quê. Posso pedir isso a você?”

Ele parecia sério, e Anya assentiu, prometendo cumprir. Como explicaria a origem da casa a Grisha ainda era uma dúvida, mas podia dizer que havia se reconciliado com a mãe.

Mais tarde, Anya soube que Dmitry Alekseevich, além das sequelas do derrame, também tinha câncer. Recusou cirurgia. No fim, Anya ajudou a organizar o funeral dele e se mudou com seu futuro marido.

Os problemas começaram por volta do sétimo mês de gravidez — já viviam juntos há seis meses.

“Talvez você devesse trabalhar um pouco? Antes do bebê nascer,” Grisha sugeriu.

Naquela época, Anya havia deixado temporariamente a clínica onde Dmitry Alekseevich a tinha colocado. Pensou que poderia viver das economias, contando com o apoio de Grisha. Mas suas palavras a surpreenderam e magoaram.

“Bem… talvez…” ela respondeu, incerta. Foi desagradável, já que era ela quem comprava os mantimentos, e Grisha mostrava-se pão-duro. Mas a criança crescia em seu ventre, e ela não queria abrir mão do casamento.

Mas uma semana antes da celebração marcada, enquanto Grisha não estava em casa, uma mulher desconhecida entrou no apartamento… com sua própria chave.

“Olá. Eu sou a Lena. Eu e o Grisha nos amamos, e ele só tem medo de te contar. Então vou dizer: você não é mais necessária,” disse uma loira alta e magra, confiante e assertiva.

“O quê?! Nosso casamento é em poucos dias! Já pagamos tudo!” Anya gaguejou, confusa. Ela havia arcado com a maior parte das despesas para fazer uma celebração modesta em um café.

“Eu sei. Sem problema. O Grisha vai casar comigo. Tenho contatos no cartório; vamos resolver tudo rapidinho,” declarou Lena com descaramento, como se já estivesse decidido.

Lena não planejava ir embora. Quando Grisha apareceu, ele apenas murmurou:

“Anya, desculpa… É verdade. Vou ajudar com o bebê, mas não posso casar com você.”

“Vamos fazer um teste de paternidade,” acrescentou Lena, colocando a mão no ombro de Grisha.

“Que teste de paternidade?! Você é minha primeira e única!” Anya gritou e partiu para cima dele com os punhos.

“Ela vai te arranhar, boba! Ela já tem quase trinta anos, mas age como uma menininha!” zombou Lena.

Grisha ficou em silêncio, sem defender Anya, apenas olhando para baixo, sem jeito. Ficou claro: tudo dependia da Lena; ele era apenas um observador passivo.

Anya começou a arrumar suas coisas. Não valia a pena lutar por um homem que desistia dela tão facilmente. Lena disse que ela e Grisha namoraram há muito tempo — ela era casada na época, mas agora estava livre. Anya era só uma substituta temporária até que a “mulher dos sonhos” estivesse disponível.

Ela poderia ter exigido explicações de Grisha, mas qual seria o sentido se ele deixava a Lena vir e fazer isso por ele?

“Então a casa serviu para alguma coisa, afinal,” pensou Anya.

A casa realmente era boa, embora não tivesse água encanada. Mas o fogão era excelente — seu avô tinha ensinado tudo o que era necessário para a vida no campo. Era habitável. Só como dar à luz sozinha? Bem, ainda havia tempo; ela daria um jeito.

A lenha estava estocada, o galpão era resistente, e até a neve estava acumulada na frente da entrada, pronta para ser limpa. As pilhas de madeira estavam cheias — uma verdadeira sorte naquele frio!

Foi bom que Dmitry Alekseevich a tivesse apresentado com antecedência aos vizinhos como a nova dona da casa e esposa do filho dele. Nada de perguntas desnecessárias.

Anya, claro, ligou para a mãe e as irmãs. Como de costume, não desapontaram — aconselharam-na a entregar o bebê para um orfanato e a “não se envolver com qualquer um antes do casamento da próxima vez.” Também fofocaram sobre como Grisha não devolveu o dinheiro do casamento, metade do qual ela havia pago.

Mas ninguém sabia da casa. Agora Anya podia se esconder de todos e se recompor.

Estava um frio terrível; ela nem tirou o casaco de plumas. Mas, quando começou a mexer nas brasas do fogão, percebeu que o ferro bateu em algo duro.

Anya tirou as luvas e puxou uma caixa de madeira que estava bloqueando a lenha. Estava cuidadosamente selada, com letras grandes na tampa: “Anya, isto é para você.” Reconheceu a letra imediatamente — era de Dmitry Alekseevich.

Dentro havia fotos, uma carta e uma pequena caixa. Suas mãos tremiam ao abrir o envelope e começar a ler:

“Querida Anechka! Você deve saber que eu fui irmão do seu avô. E um dos que ele pediu para cuidar de você.”

Pela carta, ficou claro: muitos anos atrás houve uma séria briga entre o avô e Dmitry, mas antes de morrer, o irmão mais velho o encontrou e pediu para que ele procurasse Anya quando ela completasse dezoito anos. Também deixou uma herança para ela, que sua filha dificilmente cederia.

Dmitry não conseguiu encontrar Anya imediatamente — sua mãe e irmãs escondiam seu endereço. Mas o destino os juntou no hospital, quando ele estava em tratamento e ela era sua médica. Ele queria contar tudo antes, mas não teve tempo. Então decidiu dar a ela a casa que seu avô havia comprado dele em vida, sabendo que sua filha nunca deixaria nada para a neta.

Outra surpresa na carta: sua mãe não era sua mãe biológica. Anya era filha da irmã falecida dela, a quem odiava e invejava. Na foto — mãe e pai jovens, sorrindo, abraçando uma menininha. Anya sobreviveu porque estava com o avô no dia do acidente.

Na caixa havia notas de cinco mil rublos deixadas pelo avô. Tocá-las aqueceu seu coração. As lágrimas escorreram pelo rosto. Agora ela e seu bebê estavam seguros!

Quando Anya acendeu o fogão, parecia que todos os seus medos, traições e ressentimentos desapareciam nas chamas. Ela começaria de novo — pelo bebê e por ela mesma.

Claro que, com o tempo, ela perdoaria aqueles que a machucaram. Mas agora ela tinha terminado com eles. Aquela casa seria seu refúgio.

Dmitry Alekseevich sempre dizia que uma boa casa deveria pertencer a alguém que a valoriza. Ele dizia que a construiu em sua juventude com as próprias mãos, com os melhores materiais.

“Não é uma casa, é uma maravilha! Vai durar duzentos anos!” ele repetia frequentemente. A vila era acessível de ônibus — a duas paradas de distância.

Sim, o salário era baixo, e a ajuda com o bebê ainda era incerta. Mas o principal — ela tinha um teto sobre a cabeça, economias, uma profissão. Ela era jovem, bonita e teria um filho!

Pela primeira vez, Anya sentiu que era realmente uma pessoa feliz.