Luto: Acabamos de perder uma de nossas maiores atrizes, morre Berta Loran

O Brasil perdeu, na madrugada desta segunda-feira (29 de setembro), uma de suas artistas mais emblemáticas. A atriz e comediante Berta Loran, que completaria 100 anos em março do próximo ano, faleceu aos 99 anos em uma clínica particular de Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. A informação foi divulgada pela colunista Fábia Oliveira e, até o fechamento desta edição, ainda não havia comunicado oficial do hospital confirmando as circunstâncias do falecimento. A notícia marca o fim de uma trajetória que atravessou gerações e ajudou a consolidar a comédia na televisão brasileira.
Berta Loran tinha uma carreira de destaque, mas também uma vida marcada pela discrição. Nos últimos anos, ela optou por um afastamento quase completo da mídia e dos palcos, recusando entrevistas e convites para aparições em programas de TV. Sua escolha refletia uma postura coerente com sua personalidade: mesmo sendo uma figura pública e querida, Berta sempre defendeu a privacidade como um bem essencial. Esse comportamento, incomum no universo artístico, reforçava ainda mais a aura de mistério em torno de sua vida pessoal.
O produtor cultural João Luiz Azevedo, responsável pelo livro Berta Loran: 90 anos de humor (2016, editora Litteris), relatou em diversas ocasiões como era difícil convencer a atriz a revisitar sua própria história diante das câmeras ou dos microfones. Segundo ele, a comediante era reticente até mesmo quando se tratava de homenagens em sua honra, como se a memória de sua arte bastasse por si só, dispensando maiores explicações ou recontagens. Para os fãs, esse traço apenas reforçava a autenticidade da artista, que nunca se deixou moldar pelas pressões externas.
Ainda assim, os convites para sua participação em programas eram frequentes. Produções de grande audiência, como o The Noite, de Danilo Gentili, e o tradicional Sem Censura, da TV Brasil, tentaram diversas vezes contar com sua presença. Todas as tentativas esbarraram na negativa firme da atriz. Nem mesmo um afetuoso pedido gravado pela apresentadora Cissa Guimarães, amiga pessoal de longa data, foi capaz de convencê-la a retornar às telinhas. A postura inabalável de Berta demonstrava que, para ela, o respeito às próprias escolhas estava acima da vaidade ou da exposição.
Mas se o público mais jovem pode ter sentido sua ausência em tempos recentes, é impossível apagar a marca que Berta deixou na comédia nacional. Nascida em Varsóvia, na Polônia, em 1924, imigrou ainda criança para o Brasil, trazendo consigo a força de quem sobreviveu às adversidades da época. Aqui, construiu uma carreira sólida, participando de peças teatrais, novelas e programas humorísticos que entraram para a história da televisão. Seu talento incomum para extrair riso de situações simples transformou-a em uma referência incontornável do gênero.
Ao longo da carreira, Berta Loran dividiu o palco e a cena com nomes que se tornaram igualmente lendários. Seu estilo direto, aliado a uma presença cênica marcante, conquistou não apenas os colegas de profissão, mas também uma legião de fãs que a acompanhou por décadas. Para muitos, sua imagem permanece associada à fase áurea da comédia televisiva brasileira, um período em que os programas de humor eram capazes de reunir famílias inteiras diante da TV.
Agora, com sua partida, o país se despede não apenas de uma atriz, mas de um pedaço importante de sua memória cultural. O silêncio em torno de sua morte contrasta com as gargalhadas que espalhou ao longo da vida. O centenário que não chegou a ser celebrado deixa uma sensação de vazio, mas também a certeza de que sua obra permanece viva na lembrança de todos que aprenderam a rir com ela. A trajetória de Berta Loran é, antes de tudo, um testemunho do poder do humor como expressão artística e do valor da autenticidade em um mundo que frequentemente exige concessões.





