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Quem era a Japinha do CV, traficante morta em operação histórica no Rio

Uma das principais figuras femininas do Comando Vermelho, conhecida como Penélope ou “Japinha do CV”, foi morta durante uma das operações mais letais já registradas no Rio de Janeiro. A traficante, que era considerada uma das mulheres de frente da facção, morreu após ser atingida por um disparo de fuzil no rosto, durante confronto com forças policiais nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte da capital fluminense. De acordo com as investigações, Japinha resistiu à abordagem e abriu fogo contra os agentes, que revidaram. O tiro foi fatal e esfacelou a cabeça da criminosa, que morreu no local.

Fontes da segurança pública informaram que a mulher usava roupas camufladas, colete tático e portava carregadores de fuzil, o que indica que participava ativamente dos confrontos armados da organização. Ela era conhecida por atuar na linha de frente e era considerada pessoa de extrema confiança dos chefes do tráfico local. Sua principal função era proteger as rotas de fuga e garantir o controle sobre pontos estratégicos de venda de drogas nas áreas dominadas pela facção. O corpo foi encontrado próximo a um dos acessos principais do Complexo do Alemão, após intensas trocas de tiros que duraram horas e deixaram a comunidade em estado de pânico.

Moradores relataram que o confronto foi um dos mais intensos dos últimos anos, com disparos ininterruptos e sobrevoos de helicópteros blindados. O cenário de guerra se estendeu por toda a região, com barricadas e veículos incendiados em diversas ruas. A operação, batizada de “Operação Contenção”, foi organizada com o objetivo de enfraquecer a base logística do Comando Vermelho e impedir o avanço territorial da facção. Segundo o governo estadual, o Comando Vermelho vinha expandindo suas áreas de influência e aumentando o poder de fogo em comunidades da zona norte.

A ofensiva mobilizou cerca de 2,5 mil agentes de diferentes forças de segurança, entre eles policiais civis, militares e unidades especiais. O saldo da operação foi trágico: 64 mortos, incluindo quatro policiais, e 81 prisões confirmadas. Além disso, dezenas de armas de grosso calibre foram apreendidas, junto a granadas, munições e drogas. O governo do Rio classificou a ação como “necessária” diante da escalada da violência e da ousadia da facção. Já entidades de direitos humanos criticaram a operação, alegando uso desproporcional da força e falta de planejamento para evitar vítimas civis.

Na manhã seguinte ao confronto, moradores empilharam cerca de 50 corpos sob uma lona na Praça de São Lucas, em um gesto de protesto e desespero. A cena chocou o país e reacendeu o debate sobre a segurança pública no Rio de Janeiro. Relatos indicam que muitas famílias ainda não conseguiram identificar seus parentes mortos e que há corpos espalhados por áreas de difícil acesso nas comunidades. O clima é de medo e silêncio, e parte dos moradores teme represálias tanto da polícia quanto de criminosos.

A morte de Japinha do CV foi vista por autoridades como um golpe simbólico contra o Comando Vermelho. Ela era uma das poucas mulheres a ocupar posição de destaque dentro da hierarquia da facção e tinha fama de ser implacável nas decisões e nas disputas por território. Fontes ligadas à inteligência policial afirmaram que Penélope tinha ligação direta com líderes do tráfico que comandam as operações a partir de presídios. Sua atuação era considerada estratégica para o transporte de drogas, armas e dinheiro entre comunidades e regiões de fronteira.

Enquanto o governo estadual comemorava os resultados da ofensiva, o Palácio do Planalto reagiu com cautela. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, convocaram uma reunião emergencial com o governador Cláudio Castro para discutir os desdobramentos da operação e o impacto social das mortes. O governo federal afirmou estar “estarrecido” com o número de vítimas e prometeu avaliar medidas para conter a violência urbana sem agravar a crise humanitária nas comunidades.

Governadores de outros estados também se manifestaram. Alguns, como Jorginho Mello, de Santa Catarina, ofereceram apoio e propuseram o envio de efetivos policiais para reforçar ações conjuntas contra o crime organizado. Em contrapartida, grupos de direitos civis exigiram investigações independentes sobre as mortes, alegando possíveis execuções sumárias. A Defensoria Pública do Rio de Janeiro anunciou que acompanha os casos de familiares que denunciam desaparecimentos e invasões de domicílios durante a operação.

A megaoperação também reacendeu o debate sobre a possibilidade de o governo federal decretar uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) no Rio de Janeiro. A medida, considerada uma “lei de guerra”, permitiria o uso das Forças Armadas em apoio às polícias locais, sob comando direto da União. Especialistas divergem quanto à eficácia da GLO, lembrando que intervenções anteriores não conseguiram reduzir a violência de forma duradoura. O presidente Lula ainda não se pronunciou oficialmente sobre a hipótese.

A morte da Japinha do CV, ocorrida em meio a uma das maiores tragédias urbanas do estado, tornou-se símbolo do ciclo de violência que há décadas domina o Rio de Janeiro. De um lado, a imagem de uma mulher que chegou ao topo do crime e foi abatida em confronto; de outro, a população aprisionada entre o poder das facções e a força do Estado. Enquanto o governo fala em vitória, a realidade nas comunidades segue marcada por luto, medo e desconfiança, revelando que a guerra do Rio ainda está longe de ter um fim.