Minha sogra achava que, depois do divórcio, eu continuaria sustentando ela por medo — mas ela nem imaginava quais eram, na verdade, os meus planos.


A sogra achava que, depois do divórcio, eu continuaria sustentando-a por medo — mas ela nem imaginava os planos que estavam amadurecendo na minha cabeça.
Anna estava parada à porta do seu apartamento em Moscou, olhando para a mulher idosa com um embrulho nas mãos. Tatiana Stepanovna, sua ex-sogra, parecia ter vindo visitar uma velha amiga.
— Annushka, minha querida — começou ela num tom meloso —, não tenho pra onde ir. O meu Seriozha levou aquela… como é mesmo o nome? Vera! Levou a Vera pra morar com ele. E eu, claro, não quero atrapalhar os jovens. Que vivam o amor deles! Mas e eu, o que faço na minha idade? Você me deixaria ficar aqui um tempinho?
Anna recuou em silêncio, abrindo caminho. O que poderia responder? Colocar uma mulher de sessenta anos na rua? O divórcio já tinha sido difícil. Sergey, depois de dez anos de casamento, “encontrara a si mesmo” nos braços de uma funcionária de vinte e seis anos. Mas que culpa tinha a mãe dele nisso?
— Tatiana Stepanovna — disse Anna baixinho, fechando a porta —, eu não entendo. A senhora tem seu próprio apartamento. Por que quer morar aqui?
— Ah, Annushka — suspirou a sogra, sentando-se no sofá e tirando os sapatos —, o meu cantinho é minúsculo, você sabe. Aqui tem espaço, tem ar. O Seriozha disse que você vive sozinha nesse apê grande. Custa te abrigar uma velhinha?
Anna cerrou os dentes. Claro que Sergey disse isso. Arranjou a nova namorada pra morar com ele e empurrou a mãe pra ex-mulher. E ninguém pensou no que ela sentia.
— É só por pouco tempo — repetiu Tatiana Stepanovna, já abrindo o casaco. — Até eu me ajeitar.
Nos primeiros dias, Anna tentou ser compreensiva. Cozinhava para duas, comprava os remédios “urgentes”, limpava a bagunça. Mas Tatiana Stepanovna era uma hóspede terrível — deixava a louça suja, espalhava roupas, via novelas altas até de madrugada.
— Anna, querida — disse certa manhã —, minha pensão é uma mixaria. Você podia me ajudar um pouquinho com as compras? E também com os remédios pra pressão… tô sem dinheiro.
Anna deu cinco mil rublos. Depois mais três para “vitaminas pro coração”. Depois mais dois “pra docinhos com o chá”.
Um mês depois, diante de mais um pedido, Anna respirou fundo:
— Tatiana Stepanovna, talvez fosse melhor controlar um pouco os gastos. Eu também não sou rica.
A sogra virou-se, ofendida, com aquele olhar que Anna conhecia bem — o prelúdio de um escândalo.
— O que você disse?! — gritou. — Controlar gastos?! Como se atreve! Eu te aceitei como filha! Dez anos te tratei como da família! E agora você me cobra cada centavo?
— Eu não estou cobrando, só…
— Cala a boca! — berrou a sogra. — Você é uma ingrata! Sem filhos! Eu criei meu filho sozinha depois que enterrei o marido! Trabalhei em três empregos! E agora você não tem pena de uma velha doente?! Eu vou contar pra todo mundo o monstro que você é!
Anna ficou em silêncio. E suportou aquele e os seguintes escândalos — sobre o jantar “sem gosto”, o “desrespeito”, a “falta de carinho”. Tatiana Stepanovna era uma especialista em manipular, em fazer-se de vítima, em gritar até atrair vizinhos.
Depois de mais uma dessas cenas, Anna ligou para Sergey.
— Sergey, vem buscar tua mãe.
— Ahn, Anya, calma. Eu tô tentando reconstruir minha vida. Ela já sofreu com o nosso divórcio. Que custa você aguentar um pouco?
— Tá me custando caro. Dinheiro, paciência e saúde.
— Você exagera. Ela é idosa, precisa de ajuda. Se pode ajudar, ajude.

E desligou.
Anna ficou na cozinha, olhando para o vazio. Ela não podia mais. Tatiana sentia-se dona da casa, exigia, humilhava, mandava. E tinha certeza de que Anna a sustentaria por medo e culpa.
Mas Anna já não tinha medo.
*“A sogra achava que, depois do divórcio, eu continuaria sustentando-a por medo. Mas ela nem imaginava os planos que estavam amadurecendo na minha cabeça.”*
Na manhã seguinte, enquanto a sogra ia ao posto de saúde, Anna chamou um chaveiro. Em uma hora, as fechaduras foram trocadas.
À noite, Tatiana voltou das compras. Tentou abrir a porta — nada.
— Anna! Abre! Que brincadeira é essa?! — batia ela furiosa.
Anna abriu a porta do hall e disse com calma:
— Não é brincadeira, Tatiana Stepanovna. Suas coisas estão prontas. Chamei um táxi.
— O quê?! Ficou louca?! Vai me pôr na rua?!
— Vou te levar pra casa. Pra do teu filho. Onde é o teu lugar.
— Eu não posso! A Vera mora lá! Vai ser constrangedor!
— E pra mim, não foi? — respondeu Anna friamente.
— Como se atreve! — gritou a sogra, ofegante. — Eu sou velha! Tenho problema no coração! Você não tem direito!
— Tenho. O apartamento é meu.
— Eu vou contar pra todos!
— Conte. Não me importa.
Tatiana fez a mala depressa — não tinha muita coisa. No táxi, ficou em silêncio, respirando com dificuldade.
Quando chegaram ao prédio de Sergey, Anna saiu primeiro, levando o embrulho. Subiram até o terceiro andar. Sergey, de camiseta e calças de moletom, abriu a porta, surpreso.
— Anna? Mãe? O que está acontecendo?
— Estou devolvendo o que é teu — disse Anna, empurrando o embrulho para dentro. — Tua mãe não mora mais comigo.
Vera, a nova companheira, apareceu na sala, pálida.
— Mas ela não pode ficar aqui! — gritou Sergey. — A gente está…
— Construindo uma nova vida? — completou Anna. — Ótimo. Construa. Mas sem mim.
— Anya, entende… ela está doente, precisa de ajuda. Você não quer abandoná-la agora, quer?
Anna olhou-o firme:
— Sergey, eu não sou refém da tua família. Você quis uma nova vida — viva com ela e com tua mãe. Eu tenho direito à minha. Ela não respeitou meus limites, e eu não vou abrir mão da minha paz.
Sergey ficou sem palavras.
Anna virou-se para Tatiana:
— Se precisar de ajuda médica, eu ajudo. Mas morar comigo, nunca mais. Cada um deve ter o seu lugar.
Tatiana suspirou, sentando-se no sofá. Parecia, pela primeira vez, realmente pensar no que fizera.
Algumas semanas depois, Anna voltou a respirar em paz. A casa estava silenciosa, limpa, cheia de ar. Ela retomou o trabalho, fez novos planos e, aos poucos, voltou a sentir alegria.
Às vezes, olhando pela janela, lembrava-se daqueles dias de gritos e manipulação. Mas agora sabia: o mais importante é não se perder tentando agradar quem não respeita você.
A sogra acabou voltando para o filho e a nova nora.
E Anna — voltou para si mesma.
Foi sua pequena vitória — sobre o medo, sobre o passado e sobre tudo o que tentava aprisioná-la.




