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Prisão definitiva de Bolsonaro expõe racha na família e na direita para 2026

A prisão definitiva de Jair Bolsonaro, consumada na noite de 25 de novembro de 2025, marca o fim de um longo ciclo político e o início de outro ainda mais incerto. Com 27 anos e 3 meses de pena, o ex-presidente tornou-se, de uma só vez, o maior símbolo de resistência para uma parte do país e o maior troféu do sistema judicial para outra. O trânsito em julgado das condenações por tentativa de golpe e organização criminosa não deixou margem para recursos ordinários, e a tornozeleira violada dias antes transformou a preventiva em definitiva quase sem transição. Bolsonaro dorme agora na mesma cela fria da Polícia Federal em Brasília que já abrigou tantos de seus antigos adversários.

A reação mais imediata e explosiva, porém, não veio dos quartéis, das ruas ou do Congresso, mas do próprio núcleo familiar. Carlos Bolsonaro, o filho que sempre atuou como o guardião ideológico mais radical do pai, rompeu o silêncio com uma sequência de mensagens que soaram como um grito de guerra interno. Ele chamou de “absurdo político” o fato de aliados já tratarem da sucessão para 2026 antes mesmo do corpo do pai estar “frio” na prisão. Para Carlos, discutir candidatos enquanto Bolsonaro permanece preso é o mesmo que assinar um atestado de óbito político prematuro.

A crítica tem alvo claro: o pragmatismo de figuras como Valdemar Costa Neto e até do irmão Flávio, que participaram de reuniões para mapear o espólio eleitoral do bolsonarismo. Governadores, senadores e deputados que ontem juravam lealdade eterna agora calculam minutos de televisão, fundo eleitoral e palanques viáveis. Tarcísio de Freitas surge como o nome da vez, seguido de longe por Michelle Bolsonaro, que, segundo pessoas próximas, sentiu-se preterida ao descobrir planos que a colocavam como coadjuvante. A família, que por anos funcionou como um bloco monolítico, começa a rachar exatamente no momento em que mais precisaria de unidade.

Carlos compara a situação atual à prisão de Lula em 2018, mas inverte o roteiro: enquanto o PT transformou cada dia de cadeia do líder em combustível para a campanha da resiliência, parte da direita parece ansiosa para virar a página. Para ele, aceitar a prisão sem luta até o fim significa validar a narrativa de que Bolsonaro é caso encerrado e entregar de bandeja o espólio para uma “direita domesticada” que o establishment estaria disposto a tolerar. A expressão “enterrar vivo” apareceu mais de uma vez em suas postagens, carregada de rancor e desconfiança.

A verdade é que o calendário eleitoral não espera luto nem revolta. Faltam menos de onze meses para o prazo de filiações, e o PL precisa de um plano B palpável caso o recurso extraordinário seja rejeitado – o que quase todos consideram inevitável. A base bolsonarista está órfã de liderança nacional, e o vácuo não perdoa. Quem hesitar agora pode ficar sem palanque em 2026 e, pior, sem relevância em 2030. O pragmatismo que Carlos chama de traição é, para muitos parlamentares, mera sobrevivência.

Dentro da família, o racha fica evidente. Flávio tenta costurar pontes com o centrão e manter canais abertos em Brasília; Michelle oscila entre o papel de vítima e o de candidata; Carlos escolheu a trincheira da pureza ideológica, mesmo que isso signifique isolar-se cada vez mais. A briga não é só sobre 2026, mas sobre quem terá o direito de dizer o que o bolsonarismo significa daqui para frente.

No fim das contas, a prisão de Jair Bolsonaro não enterrou apenas um homem, mas expôs as costuras frágeis de um movimento que se acreditava invencível. De um lado, a realpolitik avança rápido, medindo tempo de TV e percentuais de intenção de voto. Do outro, a guerra de Carlos é pela memória, pela narrativa e pela recusa em aceitar que o jogo acabou. Enquanto um campo já procura o próximo candidato viável, o outro ainda tenta salvar o rei. E, entre os dois, o bolsonarismo se parte ao meio exatamente no instante em que mais precisaria parecer inteiro.