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Moraes dá 24 horas para Bolsonaro explicar uso de celular por Nikolas Ferreira em visita durante prisão domiciliar

O Brasil assistiu nesta semana a mais um capítulo surreal da novela judicial que envolve Jair Bolsonaro. O ministro Alexandre de Moraes determinou que o ex-presidente explique, em 24 horas, por que o deputado Nikolas Ferreira usou celular durante uma visita autorizada à sua casa no dia 21 de novembro, quando Bolsonaro ainda estava em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. A cena, capturada por drone da TV Globo, mostra o parlamentar mexendo no aparelho enquanto conversava com Bolsonaro nos fundos da residência, em Angra dos Reis.

A regra era cristalina: nem Bolsonaro nem qualquer visitante poderia usar telefone celular. A proibição constava expressamente nas decisões anteriores de Moraes e tinha objetivo claro – impedir que o ex-presidente tivesse acesso irrestrito à internet ou fizesse comunicações sem supervisão. Mesmo assim, lá estava Nikolas, celular na mão, em pleno horário de visita permitido, como se a restrição judicial fosse apenas uma sugestão educada.

No dia seguinte àquela visita, Bolsonaro foi preso preventivamente. A coincidência de datas alimentou suspeitas de que o aparelho poderia ter sido usado para algo além de tirar selfies. A deputada Erika Hilton protocolou notícia-crime no STF apontando possível auxílio à fuga ou descumprimento deliberado de ordem judicial, e pediu até a apreensão do celular de Nikolas. O parlamentar, por sua vez, disse que não havia sido avisado da proibição e reclamou de invasão de privacidade – argumento curioso para quem posa para fotos em ambiente monitorado por drone autorizado pelo próprio Judiciário.

A decisão de Moraes é curta, objetiva e cortante. Intima a defesa de Bolsonaro a explicar o que aconteceu, lembrando que as restrições eram públicas e notórias. Não há espaço para alegar desconhecimento. O ministro quer saber quem levou o celular, quem autorizou, quem permitiu o uso e, principalmente, por que ninguém impediu algo expressamente vedado. A resposta terá de ser entregue até esta quinta-feira.

O episódio expõe, mais uma vez, o abismo entre o rigor formal das medidas cautelares impostas a Bolsonaro e a dificuldade prática de fazê-las cumprir na vida real. Autoriza-se uma visita, mas não se consegue garantir que um deputado federal – advogado, jovem, conectado e acostumado a lives diárias – entre na casa sem o celular na mão. Parece piada, mas é o retrato fiel do nível de tensão institucional que o país vive.

Nikolas virou, involuntariamente ou não, peça central de uma narrativa que mistura obedecimento judicial, desconfiança política e exposição midiática. Se o celular continha apenas fotos de família, a situação será constrangedora. Se continha algo mais, pode complicar bastante a vida de todos os envolvidos. O fato é que a imagem do deputado teclando enquanto Bolsonaro observava já entrou para o vasto álbum de momentos que definem este período da história brasileira.

Enquanto o prazo de 24 horas corre, o Brasil acompanha mais um round de uma disputa que parece não ter fim. De um lado, quem enxerga excesso e perseguição; do outro, quem defende o cumprimento rigoroso da lei. No meio, fica a sensação incômoda de que, independentemente do desfecho, ninguém sai ileso: nem o ex-presidente, nem o deputado, nem o ministro, nem a própria ideia de que regras judiciais ainda valem para todos.