CPMI do INSS rejeita convocação de Lulinha após delator citar mesada de R$ 300 mil em esquema bilionário

A CPMI do INSS, criada para investigar o maior esquema de desvio de dinheiro público já descoberto dentro da Previdência Social, viveu nesta quarta-feira, 4 de dezembro de 2025, seu momento mais tenso até agora. Em uma votação apertada, mas decidida pela maioria governista, foi rejeitado o requerimento que convocaria Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho mais velho do presidente da República, para prestar depoimento. O placar de 19 a 12 expôs, mais uma vez, a linha que separa a busca por esclarecimentos e a blindagem política dentro do Congresso.
O motivo da tentativa de convocação não era trivial. Um delator preso, Edson Claro, ex-braço direito do chamado Careca do INSS, afirmou à Polícia Federal que Lulinha recebia uma mesada mensal de aproximadamente 300 mil reais oriundos do rombo bilionário aberto nos descontos indevidos feitos nos benefícios de aposentados e pensionistas. Segundo o depoimento, esses pagamentos teriam somado, ao longo dos anos, cerca de 25 milhões de reais. A revelação caiu como uma bomba no plenário da comissão e nas redes sociais.
A denúncia não surgiu do nada. Mensagens de WhatsApp, fotografias e registros de viagens à Europa juntam Lulinha a figuras centrais do esquema. Há até menções crípticas a “nosso amigo” em conversas que tratam de repasses e divisão de lucros. Embora ainda não existam provas documentais diretas de entrada de dinheiro em contas do filho do presidente, os indícios foram considerados suficientes pela oposição para justificar a convocação e o aprofundamento das investigações.
Do outro lado, a base aliada tratou o pedido como manobra eleitoreira. Parlamentares do PT e partidos próximos ao Palácio do Planalto repetiram que não há elementos concretos e que trazer Lulinha à CPMI seria apenas uma tentativa de desgastar o governo com factoides. Alguns chegaram a ameaçar ações judiciais contra quem repetisse as acusações fora do ambiente protegido da comissão. A rejeição do requerimento foi celebrada por eles como vitória da “responsabilidade”.
Enquanto isso, Fábio Luís vive em Madri desde meados de 2025. A mudança para a Espanha, oficializada com a transferência de empresas e a matrícula dos filhos em colégios locais, coincidiu com o avanço das investigações sobre os descontos irregulares no INSS. Amigos próximos dizem que ele só pretende retornar ao Brasil após o fim do mandato do pai, em 2026. A coincidência temporal alimenta suspeitas, mas também serve de argumento para quem defende que ele estaria apenas protegendo a família do que chamam de “perseguição política”.
O esquema em si é assustador em escala e crueldade. A cada mês, milhões de aposentados tinham valores descontados de seus benefícios para entidades fantasmas ou sindicatos aparelhados, muitas vezes sem sequer saber. O dinheiro era pulverizado em contas de laranjas, empresas de fachada e até negócios de cannabis medicinal. Parte desses recursos, segundo os investigadores, irrigava campanhas políticas e enriquecia operadores que viviam ostensivamente enquanto os idosos contavam moedas para comprar remédios.
A rejeição da convocação de Lulinha não encerra o caso. A CPMI pode ser prorrogada, a Polícia Federal segue quebrando sigilos e ouvindo novos delatores, e o Ministério Público Federal acompanha tudo de perto. O que aconteceu hoje foi apenas mais um capítulo de uma história que mistura bilhões de reais desviados, aposentados lesados e o filho de um presidente no centro das suspeitas. Se as provas aparecerem, o Brasil terá que lidar com um dos maiores escândalos de sua história recente. Se não aparecerem, ficará a dúvida eterna sobre até onde vai a proteção que o poder consegue oferecer a quem carrega um sobrenome influente.





