CPMI do INSS: Testemunha acusa Lulinha de receber mesada de R$ 300 mil do ‘Careca do INSS

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investiga fraudes bilionárias em descontos associativos no INSS ganhou novo capítulo nesta quinta-feira, 4 de dezembro de 2025. Em depoimento sigiloso revelado por integrantes da comissão, o ex-funcionário Edson Claro afirmou que Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, recebia uma “mesada” de aproximadamente R$ 300 mil pagos por Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, apontado como operador central do esquema. Segundo a testemunha, os repasses teriam somado cerca de R$ 25 milhões ao longo do tempo.
Edson Claro, que trabalhou na Associação Brasileira de Assistência aos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Aabapp), uma das entidades beneficiadas pelos descontos irregulares, detalhou que os pagamentos eram feitos em espécie ou por meio de empresas de fachada. Ainda de acordo com ele, o próprio “Careca” teria comentado, em reuniões internas, que parte significativa dos recursos desviados do INSS era destinada a “manter” Lulinha. Até o momento, não foram apresentados documentos ou extratos que corroborem a acusação.
A ligação entre o esquema e o filho do presidente não seria direta, mas passaria por uma rede de contadores e dirigentes partidários. Um dos elos seria João Muniz Leite, ex-contador de Lulinha e sócio de empresas investigadas na Operação Lava Jato, que também prestava serviços à Aabapp. Outro ponto citado é a proximidade do dirigente petista Ricardo Bimbo Nunes, ex-presidente de entidade sindical, com operadores do esquema. Esses indícios foram suficientes para que deputados do Partido Novo apresentassem requerimento de convocação de Fábio Luís Lula da Silva à CPMI.
O pedido de convocação de Lulinha está pautado para esta mesma quinta-feira. Caso aprovado, ele será obrigado a comparecer, mesmo residindo na Espanha desde julho de 2025. Parlamentares da base governista já manifestaram intenção de rejeitar o requerimento, alegando “falta de elementos concretos” e “perseguição política”. O presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), anunciou que a votação será nominal e registrada em ata, medida que aumenta a transparência, mas também a pressão sobre cada parlamentar.
A convocação de familiares de presidentes da República em CPIs não tem precedentes recentes. Durante a CPI da Covid-19, o senador Randolfe Rodrigues (então na oposição) chegou a apresentar pedido para ouvir Michelle Bolsonaro, mas o requerimento foi arquivado. A eventual aprovação do convite a Lulinha seria, portanto, um fato político de grande repercussão, especialmente em um momento em que o governo enfrenta desgaste com denúncias de corrupção envolvendo figuras próximas ao Palácio do Planalto.
Até o fechamento desta reportagem, a defesa de Fábio Luís Lula da Silva não havia se pronunciado sobre as acusações. Por meio de nota, o Planalto classificou o depoimento como “fantasioso” e disse que “tentativas de envolver o presidente e sua família em investigações sem provas são prática recorrente da extrema-direita”. A CPMI tem prazo até março de 2026 para concluir os trabalhos, mas novas delações e quebras de sigilo já aprovadas podem trazer mais elementos nos próximos dias.
O caso reacende o debate sobre a extensão das investigações parlamentares e o uso político de CPIs em ano pré-eleitoral. Independentemente do desfecho da votação desta quinta-feira, o depoimento de Edson Claro já cumpre o efeito de colocar novamente o nome de Lulinha no centro das atenções – algo que o governo Lula vinha conseguindo evitar desde o início do terceiro mandato.





