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Greve dos Caminhoneiros: 5 regiões do país iniciam o movimento que começa hoje

A convocação de uma greve de caminhoneiros para esta quinta-feira, dia 4, movimentou o debate no setor de transportes e também nos bastidores da política. A mobilização foi anunciada por uma ala da categoria, liderada pela União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), e tem como um de seus principais porta-vozes Francisco Burgardt, conhecido entre os colegas como Chicão Caminhoneiro. A expectativa dos organizadores é de adesão em todas as regiões do país, com atenção especial ao Sudeste e, principalmente, ao estado de São Paulo.

No início da semana, representantes do movimento estiveram em Brasília, onde protocolaram no Palácio do Planalto um ofício comunicando oficialmente o governo federal sobre a intenção de suspender parte das atividades. Mesmo com esse passo formal, o clima entre os próprios caminhoneiros ainda é de incerteza. Há divergências evidentes entre entidades sindicais, sindicatos regionais e associações independentes quanto à viabilidade da paralisação e, sobretudo, quanto às razões que motivam o ato.

Do lado dos que defendem a greve, as reivindicações estão centradas em temas antigos da categoria, que voltaram a ganhar força nos últimos meses. Entre os pontos principais estão a busca por mais estabilidade nos contratos, a reformulação do Marco Regulatório do Transporte de Cargas e a concessão de uma aposentadoria especial após 25 anos de atividade comprovada nas estradas. A UBC afirma que todo o movimento está sendo organizado com respaldo jurídico e que conta com a orientação do ex-desembargador Sebastião Coelho para evitar excessos e problemas legais.

A estratégia anunciada prevê o início gradual da paralisação em mais de 40 pontos do país. Os organizadores dizem que a intenção não é bloquear rodovias nem impedir a circulação de carros de passeio. O foco, segundo eles, seria a adesão voluntária dos caminhoneiros de carga, com paradas organizadas e dentro dos limites da lei. Ainda assim, a simples possibilidade de redução no transporte já acende um sinal de alerta em setores que dependem diretamente da logística rodoviária.

Por outro lado, lideranças expressivas da categoria se posicionaram contra o movimento. Entidades como a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) afirmam que não houve consenso suficiente para justificar uma paralisação nacional. O deputado federal Zé Trovão (PL-SC) também criticou a iniciativa, levantando suspeitas sobre interesses paralelos por trás da mobilização.

Uma das principais preocupações de quem é contra a greve é a possibilidade de que o movimento seja usado para defender pautas políticas, especialmente pedidos de anistia relacionados a episódios recentes da vida pública brasileira. Chicão Caminhoneiro nega essa intenção e destaca o caráter profissional da convocação. “É uma proposição nacional para os cerca de 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do País. Vemos grande aderência neste movimento, mas as pessoas são livres para decidir se querem participar ou não”, afirmou. Ele reforça que, na visão da UBC, o foco está exclusivamente nas condições de trabalho.

Já Wallace Landim, conhecido como Chorão e presidente da Abrava, tem outro entendimento. Para ele, existe risco real de desvio de finalidade. “Essa pauta pode acabar sendo puxada no meio da mobilização, e isso não é justo com a categoria, porque se trata de um tema político”, alertou.

A estimativa da UBC é de que cerca de 20% dos caminhoneiros participem neste primeiro momento. O cenário é bem diferente daquele vivido em 2018, quando uma greve de grandes proporções paralisou o país por dez dias. Desta vez, cooperativas importantes, como a do Porto de Santos, já informaram que não devem aderir, alegando falta de deliberação em assembleia. O governo acompanha a situação de perto, e a avaliação, por enquanto, é de que a adesão tende a ser pontual, sem risco imediato de desabastecimento generalizado.