“Mãe, Todo Mundo Tem Tênis Novo!”

— A dor silenciosa de quem luta todos os dias e nunca desiste
— “Mãe, todo mundo vai com tênis novo pra escola. Só eu que vou com esse velho?”
A frase do meu filho ecoou pela cozinha como uma flecha no coração. Eu mexia o café requentado no fogão, com o cheiro da chuva misturado ao cansaço. Lá fora, o céu cinza de São Paulo pesava. E aqui dentro, pesava ainda mais.
— “Filho, a gente precisa esperar só mais uma semana. Quando eu receber, a gente dá um jeito.”
Ele jogou a mochila no chão e se trancou no quarto.
— “Sempre é assim! Nunca tem dinheiro pra nada!”
Fiquei ali, parada. A dor de não conseguir dar o mínimo pra quem a gente mais ama… essa dor não aparece no extrato bancário. Mas corrói a alma.
Dois únicos cem reais. E contas até no teto da geladeira.
Na carteira: R$200.
Na geladeira: luz cortando, gás no fim, aluguel vencido.
E agora, o tênis do Lucas… motivo de piada na escola.
Aos 22, engravidei achando que o amor bastava. Ele prometeu ficar. Prometeu tudo. Mas quem ficou fui eu — sozinha, grávida, sem diploma. Com uma única certeza: eu ia cuidar do meu filho, mesmo que o mundo inteiro virasse as costas.
Hoje trabalho como caixa num mercado no bairro do Limão. Salário mínimo, cansaço máximo. Saio de casa às 5h da manhã pra enfrentar filas, cobranças e olhares apressados. Mas volto… porque alguém me espera. E esse alguém tem olhos grandes e sonhos maiores ainda.
“O tênis do Lucas parece coisa de brechó…”
Na sexta, ele voltou cabisbaixo.
— “Os meninos riram do meu tênis…”
Respirei fundo pra não chorar na frente dele.
Abracei forte. Tentei ser abrigo. Mesmo sem saber onde me esconder.
No sábado, fomos visitar minha mãe. Casa cheia. Meu irmão Rafael — engenheiro, casado, filhos — era o centro da sala. Eu? A filha que “decepcionou”. Quando tentei participar da conversa:
— “E o mercado, Karina? Continua naquela vidinha?”
— “Na luta…” — respondi.
Minha mãe suspirou:
— “Se tivesse estudado em vez de se enfiar com aquele sujeito…”
Engoli a dor em seco. Lucas segurou minha mão por baixo da mesa.
Mesmo criança, ele já entende o peso que eu carrego.
“Karina, deixa o Lucas comigo. Você tá sobrecarregada.”
Minha mãe sugeriu.
— “Não, mãe. Ele fica comigo.”
Ela balançou a cabeça, como quem já desistiu de mim.
Voltamos de ônibus. No caminho, Lucas encostou a cabeça no meu ombro.
— “Mãe, você tá triste?”
— “Não, filho. Só cansada.”
E como eu tava.
Mas na sexta, o salário caiu.
Paguei o básico. E com o troco, comprei um tênis simples. Sem marca. Mas novo. Dele.
Quando entreguei, os olhos dele brilharam como nunca.
— “Sério, mãe? Pra mim?”
— “Claro, meu amor. Você merece.”
Ele me abraçou forte.
— “Eu sabia que você ia dar um jeito.”
Depois que dormiu, fui pro banheiro e chorei.
Mas dessa vez… chorei de alívio.
Chorei porque, mesmo no meio da tempestade, eu consegui.
Talvez ninguém veja.
Talvez o mundo só veja uma mulher cansada num caixa de supermercado.
Mas quando olho meu filho dormindo com os tênis ao lado da cama…
Talvez, só talvez, eu já seja tudo o que ele precisa.
E isso, no meio desse mundo tão duro…
Já é ser vitoriosa.
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