«Você é apenas uma perdedora» — riu o meu chefe ao me demitir. Mal podia imaginar que, naquela mesma noite, eu tinha um encontro marcado com o dono de toda a empresa dele.


“Velha perdedora”, — riu o meu chefe ao me demitir. Ele nem suspeitava que, hoje à noite, eu tinha um encontro marcado com o dono de toda a empresa dele.
— Vamos ter que nos despedir, Anna Mikhailovna.
A voz do meu chefe, Viktor Sergeevich Morozov, era suave como manteiga — quase arrogante. Ele se recostou na cadeira e girava uma caneta cara entre os dedos, como se fosse uma batuta de maestro.
— Motivo? — perguntei com calma, sem emoção, embora por dentro tudo estivesse congelado num nó de gelo.
Quinze anos naquela empresa. Quinze anos de relatórios, projetos, noites sem dormir. E tudo foi varrido por uma única frase.
— Otimização de pessoal — disse ele com um sorriso, como se estivesse anunciando que eu tinha ganhado na loteria. — Novos desafios, novo sangue. Você entende.
Eu entendi. Vi esse “novo sangue” — a sobrinha dele, que mal conseguia formar duas frases coerentes.
— Entendo que o meu departamento tem os melhores resultados da filial — respondi com calma, olhando-o nos olhos.
O sorriso dele tremeu e se tornou predador. Ele pousou a caneta e inclinou-se para frente, abaixando a voz até um sussurro conspiratório:
— Resultados? Anna Mikhailovna, sejamos francos. Você é do passado. Velha guarda. Pessoas como você deviam se aposentar, cuidar dos netos.
Fez uma pausa, saboreando o efeito.
— Você virou uma velha, cansada perdedora que se agarra ao cargo. E a empresa precisa de energia.
Aí estava. Não “funcionária experiente”, nem “veterana da empresa”. Apenas duas palavras curtas: velha perdedora.
Levantei-me em silêncio. Humilhar-me, discutir, tentar provar algo — seria inútil. Ele já havia decidido.
— Pode pegar os documentos e o acerto na contabilidade — disse ele às minhas costas.
Recolhi minhas coisas sob os olhares cheios de pena dos colegas. Ninguém se aproximou. O medo de Morozov era mais forte do que qualquer amizade profissional.
Na caixa, coloquei a foto do meu filho, minha caneca favorita, uma pilha de revistas. Cada objeto parecia um pedaço arrancado da minha vida.
Quando saí pelas portas de vidro do centro empresarial, respirei o ar fresco da noite. Sem lágrimas, sem desespero. Apenas um vazio lúcido e uma raiva gelada, calculada.
Peguei o telefone. Na tela piscava uma mensagem:
“Tudo conforme o combinado hoje à noite? Espero você às sete, no nosso restaurante. — Artyom Viktorovich.”
Morozov não sabia de uma coisa: naquela noite, eu tinha um encontro com o dono de toda a empresa dele. E essa noite mudaria tudo.
O restaurante me recebeu com música suave e luzes baixas. Eu me sentia estranha, com a caixa nas mãos — o símbolo do meu exílio.
Artyom Viktorovich já estava sentado junto à janela. Ao me ver, levantou-se — alto, elegante, com o sorriso acolhedor de sempre. Mas ele desapareceu quando seus olhos pousaram na caixa.
— Anya? O que é isso?
— Meus troféus de quinze anos de serviço fiel — tentei responder com leveza, mas saiu amargo.
Ele pegou a caixa, colocou-a na cadeira ao lado e afastou a minha para que eu me sentasse.
— Conta — disse ele. — Agora.
E eu contei. Sem drama, sem lágrimas — como um relatório. Repeti o diálogo inteiro, palavra por palavra.
— Ele disse que eu sou uma velha perdedora — terminei, olhando para as mãos sobre a toalha branca.
Artyom ficou em silêncio. Quando levantei o olhar, o rosto dele estava calmo, quase impassível, mas vi algo duro e sombrio em seus olhos.
— E você simplesmente saiu? — perguntou ele baixinho.

— O que mais eu podia fazer? Criar um escândalo? Implorar pra ficar no cargo que eu mesma construí do zero?
— Você devia ter me ligado. Imediatamente.
— Pra quê? Pra você resolver o meu problema? Pra eu parecer uma garotinha que corre se queixar? Artyom, eu não jogo esse tipo de jogo.
Ele segurou minha mão.
— Eu sei. É por isso que estou com você. Você nunca pede nada. Pra ser sincero, já havia reclamações sobre Morozov — diziam que ele era tirano, nepotista. Mas eram cartas anônimas, rumores. Faltavam provas. Agora temos.
Nesse momento, meu celular vibrou na bolsa. Mensagem no grupo das ex-colegas, de Katya:
“Meninas, vocês não vão acreditar. O Morozov trouxe aqui aquela protegida dele, a que mal sabe falar, e a nomeou nova chefe! E sobre a A.M. ele disse que ‘se livrou do peso morto que atrapalhava o progresso’. Na frente de todos.”
Mostrei o telefone a Artyom. Ele leu e o rosto se fechou. A calma sumiu, substituída por algo frio e cortante como uma lâmina.
— Ele não apenas te demitiu. Ele quis te humilhar publicamente. Isso não é mais ofensa pessoal — é um ataque à autoridade da diretoria. Ele passou dos limites.
Artyom colocou o telefone sobre a mesa e me olhou fixamente.
— Eu não vou demiti-lo com um telefonema. Seria fácil demais. Vamos fazer diferente. Amanhã de manhã haverá uma reunião do conselho de diretores. Morozov vai ter que responder por essa “otimização de sucesso”.
Ele fez uma pausa, e nos olhos dele brilhou aço.
— E você vai comigo. Como minha consultora especial. Você vai preparar um contra-relatório, com números, fatos, gráficos. Tudo o que ele escondeu da matriz. Vamos deixá-lo apertar o próprio laço.
Passei quase toda a noite acordada. Sentei no escritório de Artyom, diante do laptop dele, e, pela primeira vez em muito tempo, não senti humilhação — mas adrenalina. Vasculhei arquivos, analisei relatórios, cruzei dados.
De manhã, o documento estava pronto — vinte páginas de uma análise devastadora, provando que Morozov não era apenas incompetente: ele prejudicava sistematicamente a empresa. Falsificava números, sabotava projetos promissores do meu departamento e criava um ambiente tóxico que afastava profissionais valiosos.
Quando entramos na sala de reuniões, Morozov estava terminando seu discurso triunfante. Ao nos ver, ele congelou no meio da frase. Eu usava um terno cinza-azulado, firme como uma armadura.
— Artyom Viktorovich? — balbuciou ele. — O que a Anna está… — a voz tremia, mas ele tentava manter a pose.
Artyom sorriu — sem calor.
— Apresento a vocês a nova consultora especial. E hoje ela continuará sua apresentação.
— O quê? — empalideceu Morozov. — Isso é uma piada?
Dei um passo à frente e liguei o projetor.
— Não é piada. Apenas fatos, Viktor Sergeevich. Vamos começar pelos números.
A sala ficou em silêncio. Primeiro slide, segundo, terceiro… Falei com calma e clareza. Todas as manipulações, falsificações e falhas escondidas atrás das palavras bonitas foram reveladas. Ninguém me interrompeu. Nem Morozov.
Quando terminei, reinou um silêncio ensurdecedor. Artyom levantou-se.
— Obrigado, Anna Mikhailovna. Creio que é o suficiente.
Virou-se para o conselho:
— Quem é a favor da imediata demissão de Viktor Morozov e da auditoria completa de todas as suas ações?
As mãos se ergueram, uma após a outra. Sem objeções.
Morozov levantou-se. O rosto estava cinzento. Quis falar, se defender, acusar, implorar — mas ficou mudo. Baixou a cabeça e saiu da sala.
Fiquei ali de pé, e senti minha postura se endireitar pouco a pouco. Eu já não era uma velha perdedora. Eu era uma mulher que voltou — não pedindo, não implorando, mas com fatos, força e dignidade.
Depois da reunião, Artyom aproximou-se e perguntou baixinho:
— E agora?
Sorri.
— Agora… quero férias. Uma semana. Ou duas.
Ele riu.
— Peça o que quiser, conselheira.
E saímos da sala — não como chefe e funcionária, mas como duas pessoas que sabiam: tudo começa agora.





