Geral

Luto chega para o presidente Lula que faz grande lamento

A morte de Clara Charf, aos 100 anos, encerra um dos capítulos mais simbólicos da história política brasileira. Viúva do lendário guerrilheiro Carlos Marighella, Clara foi mais do que apenas uma testemunha do século XX — foi uma protagonista incansável das lutas por democracia, igualdade e liberdade. Nesta segunda-feira (3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou suas redes sociais para lamentar a partida da amiga e companheira de militância.

“Com seu falecimento, o Brasil perde uma mulher extraordinária. E eu perco uma companheira de muitas caminhadas”, escreveu Lula no X (antigo Twitter). A frase resume o sentimento de boa parte da esquerda brasileira, que vê em Clara uma inspiração e um símbolo de coragem feminina diante da repressão.

Lula destacou ainda a trajetória de resistência da ativista: “Clara viveu o exílio, enfrentou a ditadura e defendeu incessantemente a democracia”. De fato, a vida de Clara é um retrato vivo das transformações e feridas do Brasil do século passado. Aos 21 anos, ela conheceu Carlos Marighella, um dos maiores nomes da luta armada contra o regime militar. O casal compartilhou ideais comunistas e, juntos, enfrentaram os tempos sombrios pós-golpe de 1964.

Depois da morte trágica de Marighella, em 1969, Clara teve que deixar o país. Viveu o exílio em Cuba por dez longos anos, longe da pátria, dos amigos e das ruas onde lutara. Lá, manteve viva a militância e a esperança de um retorno em tempos mais justos. Somente em 1979, com a Lei da Anistia, pôde finalmente voltar ao Brasil.

De volta ao país, Clara não parou. Filou-se ao recém-criado Partido dos Trabalhadores e passou a integrar a Secretaria de Mulheres do PT. Foi uma das vozes mais firmes na defesa dos direitos femininos e da participação das mulheres na política — uma bandeira que carregou até seus últimos dias. Em 2003, fundou a Associação Mulheres Pela Paz, organização que presidiu com orgulho e que continua atuante até hoje.

Lula, em sua homenagem, lembrou que conviveu com Clara por mais de 40 anos. “Aprendi com ela sobre política, solidariedade, resistência e humanidade”, escreveu. A declaração, carregada de emoção, mostra o quanto a trajetória de Clara se entrelaça com a do próprio presidente, que também enfrentou perseguições e injustiças em sua jornada política.

A notícia da morte de Clara Charf provocou uma onda de homenagens nas redes sociais. Políticos, artistas e antigos militantes compartilharam lembranças e fotos da ativista, muitas delas em manifestações históricas ou reuniões do PT nos anos 80. Mesmo aos 100 anos, Clara ainda participava de eventos e fazia questão de ser ouvida — sempre com aquele olhar firme, o mesmo que enfrentou a ditadura e acreditou em um Brasil mais humano.

Em tempos de polarização e descrença, figuras como Clara Charf lembram que a política também pode ser feita de amor, de persistência e de ideais que atravessam gerações. A mulher que amou Marighella, enfrentou o exílio e fundou movimentos pela paz deixa um legado que vai muito além da militância partidária. Deixa, sobretudo, uma lição de coragem e de esperança para quem acredita que mudar o mundo, ainda que aos poucos, é possível.