Adeus da esposa de sargento do BOPE morto em operação no RJ causa comoção

Poucos minutos antes de ser atingido em uma das ações mais violentas do ano no Rio de Janeiro, o 3º sargento do Bope, Heber Carvalho da Fonseca, de 39 anos, trocava mensagens de WhatsApp com a esposa, Jéssica Araújo. Era por volta das 10h10 da manhã quando ela perguntou, com aquela mistura de carinho e preocupação, se estava tudo bem. A resposta dele veio curta, mas cheia de peso: “Tô bem, continua rezando”. Foi a última vez que ela o ouviu. Às 10h57, o celular de Heber ficou em silêncio — e, com ele, uma história de amor e coragem foi interrompida.
Nas horas seguintes, Jéssica mandou dezenas de mensagens, ligou repetidas vezes — pelo menos cinco até as 14h —, mas nunca mais obteve resposta. O noticiário já falava em confronto intenso, em feridos. O coração dela apertava, e a esperança se misturava com o medo que toda esposa de policial conhece de perto. “Me dá um sinal, por favor”, escreveu ela em uma das últimas mensagens, já tomada pelo desespero.
Heber, flamenguista apaixonado e homem de fé, entrou na Polícia Militar em 2011. Desde então, atuava com orgulho no Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a tropa de elite da corporação. Além da farda, carregava com ele um amor enorme pela família: deixava Jéssica, dois filhos e um enteado, todos descritos por amigos como o “pilar da vida dele”.
Nas redes sociais, a esposa compartilhou um desabafo comovente. Disse que ainda não consegue acreditar, que o coração dela “ainda espera a porta se abrir e ele entrar com aquele sorriso de sempre”. Em meio às lembranças, contou algo que arrepia: Heber costumava dizer que tinha “a senha em mãos” — uma forma simbólica de aceitar que, na profissão que escolheu, a morte podia chegar a qualquer hora. “Ele era destemido, sonhador, e nunca desistia de nada”, escreveu Jéssica.
A tragédia não parou em Heber. Outros três policiais também morreram na megaoperação de terça-feira, que teve como alvo o Comando Vermelho, uma das facções mais antigas do estado. Entre eles, o 3º sargento Cleiton Serafim Gonçalves, de 42 anos, outro membro do Bope, com 16 anos de corporação. Assim como Heber, Cleiton era visto pelos colegas como alguém “de sangue frio e coração bom”. Deixou esposa e uma filha.
Na Polícia Civil, as perdas também foram dolorosas. O agente Marcus Vinícius Cardoso, com 26 anos de carreira, havia sido promovido um dia antes da operação. Um detalhe cruel que aumenta a sensação de injustiça. Ele chefiava as investigações da Delegacia de Mesquita, na Baixada Fluminense. Já o agente Rodrigo Velloso Cabral, recém-ingresso na corporação, tinha apenas dois meses de serviço ativo. Jovem e cheio de planos, trabalhava na Delegacia da Pavuna, Zona Norte.
O governador Cláudio Castro e as Polícias Civil e Militar divulgaram notas de pesar, exaltando a bravura dos agentes e lamentando as mortes. Ainda não há data confirmada para os velórios, mas a expectativa é que os corpos sejam liberados pelo Instituto Médico Legal (IML) ao longo do dia.
Mais do que estatísticas, são histórias interrompidas — famílias devastadas, filhos sem pais, esposas sem abraços. Heber, Cleiton, Marcus e Rodrigo se tornaram nomes lembrados em mais um capítulo sangrento da segurança pública no Rio. E, entre as mensagens deixadas no celular de Jéssica, uma ficará marcada para sempre: “Continua rezando”. Ela continua — agora, pedindo força para seguir sem ele.





